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21 dezembro 2006

O Natal, há mais de cem anos, em Trás-os-Montes

Por br

Ecos ancestrais de uma vivência natalícia
Data: 2006-12-21

Molhos de vides para a lareira, bacalhau, açúcar, travessas de aletria, arroz, café e trigo. Era o presente dos ricos, para as famílias mais pobres, nos Natais longínquos de finais do séc. XIX, em Vila Real e em toda a região transmontana. O fumo mais abundante, saído das chaminés das casas mais abastadas, era sinal típico da quadra natalícia, significando que havia mais gente, em casa.

“As panelas fervem com a sopa e o bacalhau e os tachos de cobre com o arroz doce”, assim definia Elísio Neves o bulício das cozinhas, naquela época, na sua “ficha”, no “Natal há cem anos”, em Vila Real. Documento que retrata, fielmente, a vivência ancestral natalícia.
“Nas mesas dos mais ricos e sobre toalhas de linho, havia vinho, aperitivos, frutas secas, comida importada, como carnes, doces, queijos, e frutos exóticos”.
Memórias que o tempo foi esboroando, e que, hoje, apenas são relíquias de uma era que se recorda, com alguma nostalgia.

Atenção aos pobres e aos presos e a vertente religiosa

Conta Elísio Neves que “um dos primeiros sintomas da chegada do Natal, a Vila Real, era o aumento do número de pessoas, a pedir, nas ruas” e “esboçavam-se movimentos diversos, para assegurar melhores consoadas à pobreza, nomeadamente à pobreza envergonhada (hoje, em franca ascensão), aos internados nos asilos, aos presos e outros excluídos da sociedade da época”.
Dos beneméritos, distinguia-se Joaquim Vitorino Oliveira que dividia o seu tempo entre Portugal e o Brasil e que era proprietário do “chalet” da Rua Dr. Augusto Rua, onde está instalado, actualmente, o Arquivo Municipal. Distribuía, nesse tempo, duzentas esmolas. O Clero também não se mostrava indiferente à sensibilidade da quadra e dois sacerdotes do Colégio de Nossa Senhora do Rosário, em 1900, deram doze castanhas a cada preso da cadeia de Vila Real.
Curioso é que, já nesta época, a Lotaria do Natal provocava ansiedade, entre aqueles que “jogavam”. Para ajudar à festa, as férias judiciais eram marcadas de 24 de Dezembro a 6 de Janeiro.
“As dificuldades dos Correios em assegurar um serviço eficiente, para responder ao aumento de tráfego postal próprio da época, eram evidentes, tantas as lembranças”.
A vida religiosa assumia uma vertente importante e evocativa da época.
“As festas de Natal começavam com a novena em honra do Menino Jesus, a qual se realizava na Igreja de S. Domingos. Aqui, havia um bonito presépio, como era o do Convento de Santa Clara. A quadra tinha um momento particular: as freiras que viviam em regime de clausura mantinham contactos “brevíssimos” com a população, através da sua participação em cânticos que acompanhavam com pandeiretas, ferrinhos e castanhetas. A Missa do Galo era celebrada na Igreja de São Domingos e na Capela Nova, na altura conhecida como Igreja dos Clérigos, com importante acompanhamento coral e instrumental. As festividades alusivas à quadra prolongavam-se até ao dia 1 de Janeiro, na Igreja do Convento de Santa Clara, ricamente ornamentada, para a celebração do mistério da Circuncisão do Redentor, com Missa Solene e Sermão, com acompanhamento musical do órgão e do Coro das Freiras.

Adaptação comercial ao espírito solidário da época

Até os políticos, na altura, aproveitavam para enviar os seus “recados”, através das Janeiras. Elísio Neves abordou, ao Nosso Jornal, alguns elementos constantes da “Ficha do Museu de Vila Real” da Tertúlia “História ao Café” e fez algumas breves comparações com o Natal vila-realense actual.
“Há realidades novas. Nesta cidade, com estas iluminações e sons de Natal, é tudo completamente novo, em relação ao que se passava, há cem anos. O Pai Natal é uma realidade muito recente. Há cem anos, não havia Pai Natal. Mas há, ainda, elementos que se mantêm, infelizmente, como as pessoas a pedir nas ruas. Na mesa, as pessoas mais abastadas, à semelhança daquelas famílias ricas que havia, há cem anos, existem, na mesma. E ainda existem muitas consoadas com dificuldades. São algumas afinidades tristes. Já não temos, entretanto, as situações das cadeias, onde, hoje, se procura proporcionar uma situação diferente. Há cem anos, era um dos poucos momentos em que os presos viviam com um pouco mais de alegria e desafogo”.
Elísio Neves salientou outras “nuances” que fazem a diferença dos Natais de outras eras, em relação aos de agora: “Uma coisa que se nota é o movimento comercial, já muito dirigido a esta quadra. Digamos que é, cada vez mais, reduzida, circunscrita, digamos assim, a estes dias principais do mês de Dezembro. Em relação há cem anos, há mais Natal. Há mais alegria, as pessoas vivem melhor. Há cem anos, havia muitas dificuldades”.

O Pai Natal, o Menino Jesus, a gastronomia e os Cantares de Reis

Vieram à baila as figuras do Pai Natal e do Menino Jesus.
“Agora, há o Pai Natal que não existia, há cem anos. E há menos Menino Jesus. Isto acontece pelo envolvimento comercial, na quadra natalícia. O Pai Natal (ao que creio, foi uma figura inventada pela Coca-Cola) suplantou o Menino Jesus. Surge mais integrada numa iniciativa comercial multinacional”.
A gastronomia é o elemento que se mantém mais próximo de há cem anos.
“Continuamos a privilegiar o bacalhau, o polvo, e, mais recentemente, o peru, assim como o bolo-rei que não é uma realidade tão antiga, como os demais costumes, de há cem anos. E, depois, as prendas de Natal que acabaram por dar maior animação comercial às cidades, sem a qual não sobreviveria. Numa cidade como Vila Real, e sabendo-se dos problemas conjunturais na economia, esta quadra é fundamental” - acrescentou Elísio Neves.
No entanto, presentes sempre os houve. Se, antes, era o Menino Jesus que os trazia, hoje é o Pai Natal quem os traz. Havia mais presépios, em Vila Real, há cem anos.
“Nessa altura, dominavam as nossas igrejas e, em Vila Real, os presépios de S. Domingos e Santa Clara eram muito apelativos. Presentemente, não temos presépios suficientemente representativos, nas nossas igrejas. Lembro-me, há cinquenta anos, o Padre Henrique Maria dos Santos organizar presépios humanizados, integrando neles ciganos, numas cabanas que eram montadas no exterior da Igreja de S. Domingos e que eram muito bonitos”.
Por fim, este investigador e etnólogo lembrou uma iniciativa da autarquia e que se enquadra nesta quadra e que, há cem anos, já existia.
“Os Reis, em particular, em Vila Real, por iniciativa da Câmara Municipal, já com mais de dez edições. Os Cantares dos Reis são um evento importante, no próprio calendário da animação da cidade”.

José Manuel Cardoso in a Voz de Trás-os-Montes

14 dezembro 2006

Casa de Mateus poderá ser uma das “Sete Maravilhas de Portugal”

Por br

Resultados serão divulgados em 07-07-2007
Data: 2006-12-14

Depois de uma pré-selecção que já filtrou 21 monumentos nacionais, a Casa de Mateus foi escolhida para fazer parte da lista das maravilhas arquitectónicas, arqueológicas ou religiosas existentes em Portugal, as quais estão, agora, à mercê da votação dos portugueses. No final, serão escolhidas as “Sete Maravilhas de Portugal”, uma iniciativa que está a decorrer, em simultâneo, com a eleição das “Novas Sete Maravilhas do Mundo.

Teve início, no dia 7, a votação “on-line” que vai ditar quais as “Sete Maravilhas de Portugal”, sendo de realçar que o único monumento a representar a região transmontana é a Casa de Mateus, situada em Vila Real.
Construída durante a primeira metade do século XVIII, a Casa da Mateus é já considerada um dos símbolos de Vila Real. No entanto, vê, agora, o seu valor histórico e arquitectónico reconhecido, com a sua escolha, para integrar a lista de 21 monumentos que se encontram em votação.
“É um reconhecimento nacional à Casa de Mateus”, sublinhou Fernando de Albuquerque, Director Delegado da Fundação da Casa de Mateus, monumento que recebe, anualmente, cerca de 60 mil visitantes.
Apesar de não se mostrar “surpreendido” pelo reconhecimento nacional, Fernando de Albuquerque mostrou-se satisfeito, mostrando a esperança de que seja “uma mais-valia, para a sua divulgação”.
Segundo o mesmo responsável, “apesar de receber cerca de 60 mil visitantes, por ano, e de ser conhecida, mundialmente, a Casa de Mateus é pouco visitada pela população local”, sendo de realçar, apenas, a visita de alunos, contando entre seis e sete mil estudantes de escolas da região transmontana.
Construída por António José Botelho Mourão (1688-1746), 3.º Morgado de Mateus, tendo a capela sido terminada pelo seu filho, D. Luís António de Sousa Botelho Mourão (1722-1798), a Casa de Mateus, teve, em 1970, um ponto alto na sua história, com a instituição da Fundação da Casa de Mateus que tem por fins estatutários a preservação da casa, o estudo do seu arquivo e a promoção de actividades culturais, científicas e pedagógicas.
“Actualmente, concilia-se uma vasta actividade cultural à actividade agrícola”, referiu Fernando de Albuquerque.
Para conhecer o Palácio de Mateus, é necessário pagar um bilhete de quatro euros para visitar, apenas, o jardim, e de sete euros, caso os visitantes queiram visitar, também, o interior do Solar.
Os castelos de Almourol, Guimarães, Marvão e Óbidos, o Convento de Cristo, a Basílica de Mafra, a Fortaleza de Sagres, o Mosteiro de Alcobaça, o Palácio Nacional da Pena, o Templo de Diana e as Ruínas de Conímbriga são alguns dos 21 finalistas, “adversários” do Palácio de Mateus, na corrida ao título de uma das Sete Maravilhas de Portugal.
Antes de chegar aos 21 candidatos, o processo de escolha começou com um grupo de 793 monumentos portugueses. Desses, um conjunto de sete peritos seleccionou 77. O passo seguinte coube a um “Conselho de Notáveis”, composto por representantes de vários quadrantes sociais, arquitectos, historiadores, políticos, actores, engenheiros, empresários, jornalistas, economistas, psicólogos e professores, entre muitos outros, que escolheram os 21 finalistas.
As “Sete Maravilhas de Portugal” serão apresentadas, no dia 7 de Julho de 2007. Para votar, basta aceder ao “site” www.7maravilhas.pt ou em www.new7wonders.com, onde cada pessoa poderá votar em sete monumentos.

A Voz de Trás-os-Montes - Maria Meireles





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